Kissinger: gênio da política ou criminoso de guerra?
Diplomata vencedor do Nobel da Paz, que morreu aos 100 anos, deixa legado histórico e controverso, mas sempre influente
WASHINGTON
Há quase meio século fora do poder, Henry Kissinger, exsecretário de Estado dos EUA completou 100 anos em maio ainda provocando debate: afinal, gênio da diplomacia ou criminoso de guerra? Após a sua morte, na quarta-feira – em causa não revelada –, o seu legado ainda divide opiniões, com homenagens e declarações pelo mundo.
Para o historiador Luke Nichter, professor da Universidade Chapman e especialista no governo Richard Nixon (1969-1974), “não é preciso escolher um lado; ele pode ser herói e vilão ao mesmo tempo”.
“Goste-se ou não, é o secretário de Estado mais relevante da história moderna dos EUA, alguém que ajudou a criar o mundo em que vivemos hoje”, disse Luke Nichter.
O maior crédito dado a Kissinger no período de oito anos em que comandou a política externa americana entre conselheiro de Segurança Nacional e secretário de Estado (a partir de 1973) é a reabertura da China após duas décadas de isolamento que se seguiram à revolução comunista de 1949.
Kissinger visitou o país de modo secreto em 1971 e, no ano seguinte, reuniu Nixon, conhecido anticomunista, com Mao Tse-Tung e Zhou Enlai – ?à época o líder chinês e seu primeiro-ministro –, dando o pontapé para que o país viesse a se transformar na atual superpotência.
Mas as controvérsias que, para alguns analistas políticos, dão-lhe o título de criminoso de guerra não são menores que os feitos. Ele autorizou bombardeios americanos ao Camboja, no contexto da Guerra do Vietnã, entre 1969 e 1973, que deixaram 150 mil civis mortos, segundo estimativas mais conservadoras.
Sob sua bênção, a CIA de Nixon auxiliou militares chilenos a desestabilizarem o governo de Salvador Allende desde a posse, em 1970. O golpe de fato, três anos depois, pelas forças de Augusto Pinochet, deu início a uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina.
No continente, Kissinger também apoiou o golpe de 1976 na Argentina, bem como a Operação Condor, que criou uma rede para operações coordenadas de repressão nas ditaduras do Cone Sul, que incluíam ainda Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai.
Mesmo assim, Kissinger recebeu um Nobel da Paz em 1973 pelas negociações pelo fim da Guerra do Vietnã junto ao vietnamita Le Duc Tho. A láurea, porém, foi considerada uma das mais questionadas da história da premiação, provocou renúncias na comissão avaliadora, e Tho recusou a medalha.
“Goste-se ou não, é alguém que ajudou a criar o mundo ” em que vivemos hoje Luke Nichter, historiador
Internacional
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2023-12-01T08:00:00.0000000Z
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